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OPINIÃO / A volta da tendência Y2K


*Matéria escrita por Giovanna Montanhan e publicada na AGEMT - Agência Maurício Tragtenberg. *

Nova onda resgata ícones da moda e entra na contramão de conquistas sociais inclusivas.


A sigla Y2K significa: year 2000 ou, em português, anos 2000. Essa tendência tem sido amplamente disseminada por influenciadores e fashionistas no TikTok que compartilham looks inspirados na época e resgatam elementos da moda dos anos 1990 e 2000. Por meio da plataforma, uma nova geração está se apropriando e reinterpretando essa estética, trazendo referências do antigo estilo e mesclando com tendências contemporâneas.


3 tendências que remetem ao estilo Y2K:


1) Calça cargo: Desde 2022 elas vêm ganhando destaque e são usadas em diversos estilos, desde o casual até o mais elegante. Com bolsos laterais e corte largo, tornou-se um item indispensável de se ter no guarda-roupa.

Rihanna - Reprodução:Backgrid



2) Look All jeans: Essa tendência consiste em vestir peças feitas de jeans em sua totalidade, tanto partes de cima como partes de baixo. O jeans é conhecido por ser versátil e atemporal, além de possuir várias tonalidades, lavagens e texturas para composição do look.


    Richlove Rockson - Reprodução: Instagram



3) Bolsas baguette: Esse acessório ganha destaque por ser versátil. Sendo pequena e alongada, a bolsa é usada rente ao braço, abaixo do ombro. O nome surgiu de uma semelhança com um tipo de pão de formato retangular, carregado pelos franceses debaixo do braço. O modelo se popularizou após a personagem Carrie Bradshaw - interpretada pela atriz Sarah Jessica Parker - usar vários modelos da marca italiana Fendi no seriado "Sex & the City".
Sarah Jessica Parker - Reprodução: Getty Images

Como tudo que evolui ao longo dos anos, em 2023 se tem maior aceitação do que conhecemos como corpos reais. Atualmente, o padrão de magreza e vem perdendo espaço nas capas de revista e passarelas, há um cenário mais diversificado em comparação com os anos 1990/2000, mesmo que com visibilidade menor do que gostaríamos.


Com a volta da tendência Y2K, os corpos quase que cadavéricos das celebridades voltaram a ser vistos com admiração e como objeto de desejo. O corpo magro e de barriga “chapada” se torna um objeto de ostentação, isso retoma a ideia de culto à magreza – bastante popular há 23 anos atrás - além de acentuar a margem para o desenvolvimento de diversos transtornos alimentares nos jovens de hoje.


Somado a isso, muitas pessoas recorrem também a aplicativos de edição, como o Photoshop, na tentativa de se aproximar do “padrão de beleza ideal”, esse padrão de magreza é praticamente inalcançável para determinados biotipos, especialmente para as mulheres, o que aumenta o pressão em relação às expectativas que a sociedade coloca sobre elas, além dos constantes julgamentos e discriminações por não se adequarem ao padrão imposto.

Algumas celebridades como a socialite Paris Hilton, a cantora norte-americana Britney Spears, a atriz norte-americana Lindsay Lohan e a antiga banda Destiny’s Child - composta por Beyoncé, Kelly Rowland e Michelle Williams – exemplificavam como os corpos deveriam ser, de acordo com o padrão.

Paris Hilton - Reprodução: Getty Images

Britney Spears - Reprodução: Glamour


Lindsay Lohan - Reprodução: Getty Images

Destiny's Child - Reprodução: Pinterest



O retorno dessa tendência é preocupante. Nos dias de hoje, compreendemos através de estudos e pesquisas, os malefícios que a ambição por ter um corpo magro não saudável pode trazer à saúde, tanto física quanto mental, de homens e mulheres.

De acordo com o site Sincofarma (Sind. do Comércio Varejista de Produtos Farmacêuticos no Estado de São Paulo), a injeção Ozempic – liberada pela Anvisa em janeiro desse ano para tratar pacientes diabéticos tipo 2 - esgotou das prateleiras das farmácias. O medicamento, somado à prática de exercícios físicos e alimentação saudável facilita a perda de peso, entretanto, a maior parte das pessoas que o adquiriram não necessitavam fazer o uso do fármaco, o utilizando apenas para fins estéticos.

A busca pela droga acontece em função de que ela também age como uma espécie de “pílula emagrecedora”, mas que não deve ser utilizada com esse intuito. O preço também não é tão convidativo quanto sua finalidade, já que cada caneta da medicação custa, em média, R$800,00.

É fundamental preservar a luta por uma indústria mais consciente e inclusiva, além de valorizar a diversidade conquistada contra padrões ultrapassados. A moda deve ser um espaço de expressão para todos, e não só uma indústria voltada para o consumo.

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